quinta-feira, abril 04, 2013

A cultura de massa e a perfeita audiência

Seria interessante encontrar um poeta, romancista, cineasta, dramaturgo, músico, ou mesmo artista plástico que se contentasse com a audiência de meia dúzia de pessoas. Às vezes se ouve falar de autores que criam por necessidade. Segundo suas próprias palavras, não conseguiriam viver sem praticar algum tipo de criação artística. Será isso verdade, ou essas pessoas estariam sempre desejando a grande audiência e, em consequência, o estrelato?

Desde os primórdios da humanidade, muitas obras de arte foram reproduzidas. Quando se tratava de livros, logo apareciam os copistas, aqueles seres humanos que exerciam a mesma função de uma tipografia, só que a mão.

É lógico que quando se fala de teatro ou de artes plásticas, a situação é um pouco diferente. Uma vez que no teatro cada apresentação é única, ele não se propõe a mecanismos de repetição. Mas qual autor não gostaria de ver suas peças em cartaz anos a fio, como algumas produções da Broadway que permanecem em cartas durante anos ou até durante décadas? Em relação às artes plásticas também se percebe a mesma questão: cada obra de arte é única. Mas todo pintor ou escultor, quando alcança o sucesso, há de querer multiplicar sua produção para sair em turnê mundo afora, sem falar na possibilidade de reprodução através de álbuns de fotografia, a mais recente febre nas livrarias.

Limitemo-nos, porém, à escrita e ao cinema.

A primeira, desde Gutemberg, proliferou-se com a impressão de exemplares que continuaram a sair das máquinas de acordo com a perspectiva de expansão do produto. Sim, produto, porque faz tempo o livro se tornou um produto, um objeto de consumo muito bem acabado, sem nada a dever a qualquer outro produto desse nosso vasto mundo de negócios.

O cinema, já pela própria natureza, surgiu como ponta de lança daquilo que se costumou chamar de cultura de massa. Ele conseguiu massificar a literatura tornando-a acessível ao grande público, já que seria mais fácil assistir a filmes do que ler livros. Sei que muitos cineastas apontarão essa minha afirmação como um sacrilégio. Mas a ideia que se formou no mundo inteiro a respeito da sétima arte é de algo espetaculoso. A própria reprodução em larga escala das cópias de um determinado filme e sua consequente distribuição por todo o planeta configuram o cinema como um tipo de arte fadado à grande audiência.

Portanto, voltamos à questão inicial. Por que a necessidade do estrelato, por que a necessidade de uma grande audiência? Quem se propõe a ser um artista para si mesmo ou para um círculo pequeno de apreciadores? Sim, de verdadeiros e profundos apreciadores. Assim, penetraríamos na misteriosa afirmação de Machado de Assis no início do seu Brás Cubas, que contabilizava apenas uma meia dúzia de leitores como a sua perfeita audiência. 

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