sábado, setembro 22, 2012

Repetição e recepção

Os protestos que têm sacudido os países árabes nos últimos dias não são resultantes apenas da provocação partida de uma pessoa desqualificada, ou mesmo fruto do preconceito religioso contra o Islã. A questão é outra e mais profunda. Trata-se de consequência da opção desenfreada do mundo ocidental pelo fetiche proporcionado pela tecnologia e pela possibilidade do lucro cada vez mais multiplicador oriundo de tal escolha.

Inaugurado o mundo industrial, com a repetição avassaladora que as máquinas passaram a oferecer, não se pensou como essa opção coexistiria em sociedades que não privilegiam a ciência, mas os valores morais e/ou religiosos. Sabe-se que, em milênios de existência, parte da humanidade não enveredou por vias que diretamente compactuassem com a hegemônica, que é a da técnica.

As conquistas ocidentais, sobretudo as da área tecnológica, são frutos da liberdade. Intelectuais, técnicos e até mesmo burocratas não poderiam chegar ao nível de produtividade atingido caso não lhes fossem permitida a liberdade de pensamento, de pesquisa e de expressão. Acrescente-se também a concepção de que, pelo menos a princípio, privilegiar-se-ia a vida material, isto é, a concepção de existência cuja ética não mais levaria em consideração os valores metafísicos.

É certo que em muitos lugares, mesmo nos mais distantes e de cultura muitas vezes diversa, assimila-se o que foi produzido pelo Ocidente e, através de toda essa produção, consegue-se o sucesso almejado.

A partir dessa premissa, podemos pensar por dois flancos. O primeiro deles é que o mundo ocidental, capitaneado pelos Estados Unidos, sempre desejou estar à frente na ciência, não deixando de expandir por todo o globo os seus inventos, objetivando de imediato os consequentes lucros advindos deles. Não há país que não queria ganhar dinheiro, cobrar royalties por suas patentes, mas são poucas as vezes em que há o cuidado de se pensar se esses produtos farão bem ou mal a outros povos. Portanto, a partir do momento em que se possibilitou a disseminação do computador pessoal e, pouco tempo depois, da internet, não houve a preocupação com nenhum tipo de estudo sobre o impacto dessas tecnologias mundo afora, sobretudo em locais onde os valores não são semelhantes aos do Ocidente. Por outro lado, os países islâmicos, que assimilam a técnica produzida fora de sua órbita e a adotam para o seu progresso, precisariam refletir a respeito da origem dessa nova ciência. Ao adotarem o computador pessoal e os sistemas operacionais oferecidos por americanos e europeus, estão compactuando, ainda que tacitamente, com as crenças dos vendedores. É muito fácil utilizar a tecnologia estrangeira que, até certo ponto, serve de resposta às necessidade locais, mas, ao mesmo tempo, esquecer que essa mesma tecnologia não existiria em condições adversas à liberdade de pensamento, de pesquisa e de expressão.

Daí é que se há de refletir sobre a responsabilidade de tantas mortes ocorridas depois da exibição no Youtube de parte do filme dirigido por esse “suspeito” senhor americano. Apesar de seus antecedentes, não se pode nem se deve jogar sobre seus ombros toda a culpa de tantas atrocidades cometidas nos protestos em defesa de uma determinada concepção religiosa. A responsabilidade deve recair também sobre aqueles que pensaram a economia em termos mundiais e não imaginaram que vender significasse não apenas lucros, mas também perdas, muitas vezes contabilizadas através de vidas humanas,

Parte da responsabilidade deve ser atribuída ao outro lado. Caso não desejem compartilhar os mesmos valores do mundo ocidental, como os de liberdade de expressão (e mesmo o da não existência de Deus), deveriam manter-se alheios às tecnologias.

É muito fácil ao Ocidente impor seus produtos à roda do mundo como fetiche e como uma das possibilidades de hegemonia. Ao mesmo tempo, também é fácil ao mundo islâmico usufruir dessa mesma tecnologia e até certo ponto lucrar com ela mas não querer pagar o preço. Portanto, dividam-se as responsabilidades. O Ocidente com seu desenvolvimentismo desenfreado, e o Islã, caso queira privilegiar suas concepções religiosas e existenciais, que não se aproxime nem faça uso dos instrumentos que divulgam aquilo que chamam de blasfêmia.

Quem se utiliza dos dispositivos advindos de uma sociedade altamente tecnológica, que atropelou Deus e a metafísica, não pode exigir em contrapartida posições justificadoras.

sábado, setembro 15, 2012

Em todos os lugares, a todo momento


A potencialização da audiência e a celebração da imagem

Ao observarmos as celebridades do momento chegamos à conclusão de que elas só existem, na maioria das vezes, por causa daquilo que costumamos chamar de instrumentos de reprodução da cultura de massa.

É importante uma breve viagem pela História para entendermos como sempre ocorreu, ao longo do tempo, a divulgação e a manutenção das ideias que regeram e ainda regem o comportamento dos seres humanos.

Da Antiguidade até a Idade Média foram as religiões que fizeram esse trabalho. Os oráculos, ou os sacerdotes, tinham a função de divulgar a existência, a moral e a vontade dos deuses. Quando ainda não havia nenhum tipo de meios de comunicação, a voz daqueles que se incumbiam dos templos era o instrumento que formava a base de pensamento de cada povo. Na Grécia, escapando um pouco a esse costume, a discussão em academias e mesmo nas praças públicas fez determinadas ideias avançarem devido à ação de homens não religiosos. Assim surgiram os primeiros filósofos. O saber que transmitiam era de outra ordem e muitas vezes contrariava o que diziam os sacerdotes. A escrita foi o primeiro meio de comunicação para todo esse pessoal, uma espécie de modo de perpetuação do que tentavam transmitir. Mesmo com a maioria da população pouco letrada, a escrita fez as ideias desses pensadores sobreviverem.

O Império Romano, tendo a religião como estofo, expandiu duas ciências distintas, a militar e o direito; por muitas vezes paradoxais em suas atuações. Ambas tiveram força de persuasão e de convencimento, muitas vezes fazendo crer que o Império era justo. É bom lembrar que o direito tem certo sabor de religião, porque as primeiras leis foram baseadas em códigos consuetudinários, na verdade oriundos das crenças.

Na Idade Média a Igreja Católica tornou-se a grande mídia, e teve forte poder de convencimento. Além de se arvorar como representante de Deus na Terra, tinha o poder de vida e de morte, principalmente sobre aqueles que a contestavam. Mas, em dias de paz, o púlpito das igrejas era o que formava a ideologia. Os padres, sempre bons oradores, deram embasamento teórico às ações dos homens, mesmo que muitas delas escapassem ao que pregou Cristo: o perdão.

Com a invenção da imprensa e a perspectiva de reprodutibilidade das ideias, começou-se, ainda que de modo suave, a se anunciar o que estava por vir. As publicações, ao colocar em evidência seus autores, passaram a lhes proporcionar fama e respeito. Com a invenção da máquina a vapor, equipando as gráficas com velocidade antes impensada, os homens de letras viveram sua época de ouro.

A fotografia, ao ser criada, já possuía todo o aparato para lhe servir de suporte e catapultar o que anunciava de mais precioso: a reprodução da imagem, enfim, a publicidade. A perspectiva dessa reprodução em escala industrial constituiria, pouco a pouco, toda uma mitologia que superaria até mesmo as da Antiguidade, incluindo aí os deuses do Olimpo.

Quando Walter Benjamin discutiu as perspectiva de reprodutibilidade da arte a partir da fotografia, os integrantes do Nacional Socialismo, na Alemanha, já sabiam o que fazer com isso, só que não foi bem a arte que eles reproduziram. O filósofo, que morreu em terra estrangeira, viu na fotografia o meio de as obras de artes tornarem-se acessíveis a todas as pessoas. Claro que essas obras perderiam algo de essencial – que ele nomeou de aura –, mas estariam próximas aos trabalhadores, às pessoas do povo. Assim, todos poderiam usufruir dos bens culturais da humanidade.

Theodor Adorno já vai por outra via. A partir da análise do cinema americano de meados do século 20, observa que a indústria cultural não serviria para lhes alavancar a vida numa perspectiva de libertação do poder do capital, mas causaria o deslumbre em seus espíritos. As pessoas que manipulariam esses equipamentos de transmissão da cultura passariam a ter intenso poder sobre as massas, poder esse até mesmo capaz de manipular os desejos das pessoas.

Com o advento primeiro do rádio e depois da TV, a ideologia dominante teve a sua atuação potencializada. E é bom ressaltar, passou a funcionar com uma espécie de força inercial incapaz de encontrar quem lhe opusesse resistência.

Essa reflexão me veio à mente em meio às observações de como surgem as “celebridades” na vida contemporânea. O futebol é um bom exemplo. No começo era um esporte amador (jogava-se por amor), depois se tornou extremamente lucrativo, propiciando a muitos atletas mais fama do que a cientistas e homens de estado. O mesmo aconteceu em relação a outros esportes. A razão disso é a seguinte: com a entrada em cena das mídias eletrônicas, os atletas transformaram-se em potenciais vendedores, estando presentes em todos os lugares, a todo momento. Quando não vendem diretamente produtos, vendem audiência.

Não escapam a esse círculo o mundo artístico nem as celebridades de ocasião, como as reveladas até mesmo em incidentes inesperados, como uma eventual perseguição social ou racial, ou sobreviventes de desastres, como aconteceu recentemente numa mina no Chile.

Quando teremos um mundo justo, com as pessoas (e/ou os conceitos) em seus devidos lugares, um mundo em que os mais esforçados e criativos (“para o bem da humanidade”) sejam os mais valorizados e até os melhores remunerados?

Para o futuro próximo, não existe essa chance. A reprodutibilidade da imagem levada às últimas consequências é de uma força quase fascista. Só que o Fascismo foi, até certo ponto, contido. Aqui, ao contrário, a perspectiva mostra-se avassaladora.

sexta-feira, setembro 07, 2012

Jogafora, o azarão de Leopold Bloom


Ulysses, de James Joyce, traz uma passagem em que um dos personagens, lá pelo entardecer, numa conversa de bar, comenta com alguns amigos a aposta certeira de Bloom no azarão Jogafora, na Copa de Ouro, uma espécie de grande prêmio do turfe local. Eis o diálogo:

      – O Bloom, ele falou, o negócio do tribunal é fachada. Ele botou umas moedas no Jogafora, e foi recolher os shekels.
      – Aquele cafre de olho branco? O cidadão falou, que nunca apostou num cavalo só de raiva.
      – É pra lá que ele foi, o Lenehan falou. Eu encontrei o Garnizé Lyons indo apostar naquele cavalo só que fiz ele desistir e ele me disse que o Bloom que deu a dica. Eu aposto o que vocês quiserem que ele levou cem xelins pra cinco com essa. Ele é o único sujeito de Dublin que se deu bem. Um azarão.

O episódio também é pertinente quando pretendemos falar sobre o livro, essa epopeia moderna, que, em algumas edições, ultrapassa as mil páginas. Ulysses é um livro sobre o qual muitos falam, mas poucos o têm lido. Às vezes, é possível observar que faz parte da biblioteca de muitos intelectuais, mas quando perguntamos sobre sua leitura, recebemos como resposta alguma hesitação. O que se depreende é que foram lidas algumas partes, e que o livro, como um todo, ainda aguarda debruçar mais dedicado e atento.

No Brasil, já se chegou à terceira tradução. A primeira é de Antônio Houaiss, editada pela Civilização Brasileira; a segunda, da editora Alfaguara, é de Bernardina Pinheiro; a terceira, de Caetano Galindo, foi publicada pela Penguin Companhia das Letras. Por que todas essas traduções quando se trata de um livro de difícil leitura, obra que aparentemente dá mais notoriedade às editoras do que compensação financeira? Um fato curioso: a edição da Penguin Companhia é uma espécie de edição de bolso, com o preço abaixo dos cinquenta reais.

Na verdade, quem consegue ler Ulysses até o final sente um certo gostinho de vitória, porque são muitos os desafios. Só assim se percebe a beleza que há nos desvãos daquele 16 junho de 1904 (dia retratado no livro), e nos percursos de Leopold Bloom e de Stephen Dedalus. Fica a impressão de que os conhecemos minuciosamente (de corpo e alma); também não deixam a desejar os que os cercam, principalmente Molly Bloom.

Durante a leitura, porém, a sensação é outra. Muitas vezes, ao mergulhar no universo psicológico de cada personagem, perdemo-nos. Sentimos então a necessidade de voltar para retomar o fio da meada, mas, quando não encontramos esse fio, temos vontade de abandonar o livro. Caso nos aventuremos a ir em frente custe o que custar, o novelo parece mais embaraçado. Há todo tipo de percalço: diálogos que parecem intermináveis, referências difíceis de serem decifradas sem a ajuda de especialistas e fatos que só compreendemos como possíveis quando os atribuímos às fantasias criadas pela mente dos personagens. Na tradução da professora Bernardina, há grande número de notas finais e inúmeras explicações sobre cada momento da narrativa. Mas elas acabam provocando efeito contrário, porque se nos apegamos a todos os esclarecimentos, já não faz sentido ler a obra como ficção. Inclusive poderá haver aquele que, munido das tais notas, discuta o livro como se o tivesse lido.

Para que se possa perceber a grandeza do romance, é preciso entender o momento em que Joyce o escreveu e quais as questões que geraram a necessidade da obra no universo da literatura.

O autor irlandês aproveitou todo tipo de narrativa existente até então para criar o seu Ulysses. Ele parte da narrativa realista, navega nas águas da oralidade, passa pela estrutura do texto teatral, por poemas, abusa na formação de neologismos, até desemborcar naquilo em que mais inova: o livre mergulho na interioridade de alguns personagens, sobretudo na de Leopold Bloom. Em determinado parágrafo, um narrador em terceira pessoa descreve a cena, mas logo a seguir o próprio personagem retratado assume a direção da narração tornando-a de primeira pessoa. Deixa de existir o que a teoria da literatura convencionou chamar de foco narrativo. Em contrapartida, há uma grande vantagem nisso, o leitor pode acompanhar o romance a partir de múltiplos pontos de vista.

Será, no entanto, agradável esse modo de contar histórias? Para respondermos, precisamos saber primeiro como o leitor entende o ato da leitura. Caso deseje uma narrativa linear, arrumada, com todo o percurso facilitado, é lógico que não vai gostar. Mas caso seja um leitor calejado, velho de guerra e de bibliotecas, perceberá que Ulysses instaura algo novo no horizonte da literatura. É certo que o livro não é para neófitos. Também não se trata de leitura direcionada a intelectuais, como alguns críticos gostam de ressaltar.

Ao escrevê-lo, Joyce traz a seguinte questão: a impossibilidade de o real ser representado pela literatura ou por qualquer outro tipo de arte. Somente frações do real são passíveis de representação, por isso as “apenas” vinte e quatro horas na vida dos personagens, por isso personagens como pessoas comuns, com todas as fragilidades e vícios inerentes à natureza humana, por isso a fragmentação. Uma história jamais poderá ser contada em toda a sua plenitude.

E onde ocorre a ação? Na cidade de Dublin e em quase todos os lugares possíveis, interiores e exteriores, físicos ou imaginários. Parte-se de casa, passa-se pela igreja, cemitério, jornal, rua, biblioteca, bares, praia, hospital, e até mesmo por um bordel.

Lendo Ulysses, podemos nos perguntar: o que a literatura é capaz de retratar, até onde pode ir, como pode apresentar seus personagens, qual o limite deles, como suas histórias podem ser contadas?

Retomando o início dessa matéria, percebemos que a aposta e o acerto de Bloom no seu azarão acabam por se tornar uma metáfora da aposta e do acerto do autor no seu Ulysses, na aposta de que a literatura, ainda que fraturada, é possível.

Não se deve ler Joyce com a intenção de se encontrar uma boa história, mas para saber, talvez, a razão de todas as histórias.

Ulysses, James Joyce
Tradução: Caetano W. Galindo
Penguin – Companhia das Letras, 1106 páginas


sábado, setembro 01, 2012

Estrangeiros

Reluto em colocar o título nesta crônica. Tal palavra sempre me soou forte. Além de me fazer lembrar dois livros, o de Camus, que traz a palavra no singular e antecedida do artigo, e Emigrantes, de Sebald, recordo meus antepassados que pisaram pela primeira vez nesta terra.

Quando criança, a síndrome do estrangeiro sempre rondou a minha casa. Meus pais, filhos de emigrantes, falavam entre si um idioma que eu e meus irmãos não entendíamos, principalmente quando não nos queriam na conversa. Nas visitas a tios e tias, acontecia sempre a mesma coisa. Todos falavam outra língua.

Meu avô conversava comigo em português, mas sua pronúncia era carregada. Apesar de ter falecido quando eu mal completara nove anos, ainda me lembro de algumas histórias que me contava, experiências vividas por ele em sua terra de origem. Às vezes penso que assim como ele falava mal o português, talvez não falasse sua língua como um nativo, pois a perdera cedo, junto com sua pátria. Viajou para o Brasil ainda muito jovem, acompanhado da mãe, de dois irmãos e de uma irmã.

Entre os garotos da mesma idade, os estrangeiros éramos eu e meu irmão. Destoávamos de tantos Josés e Joãos que compunham a turminha daquele pedaço de rua. Nossos nomes soavam estranhos, e nossas festas não eram as mesmas das deles.

Meus avós deixaram seus países em troca de um novo mundo. Queriam a paz e a perspectiva de uma vida melhor. Não sei se o conseguiram, não sei se no final da vida se sentiram recompensados. Por melhor que tenha sido o país adotado, por mais que se tenha progredido, sempre se é um estrangeiro.

Ao pisar no Brasil, tentaram dar continuidade aos costumes da terra de onde vieram. Reconheciam-se um nos outros, em meio a tantas levas de homens e mulheres que desembarcavam. Confraternizavam-se e comemoravam as festas religiosas. Foram morar no mesmo bairro, quando não nas mesmas vilas ou casas, plenas de quartos e de crianças correndo pelos quintais.

Hoje, quando todos já se foram, nos perdemos no individualismo bem sucedido dos descendentes, que não lembram, ou fazem questão de esquecer, o tanto que sofreram seus avós, tios e tias. Os emigrantes já ficaram distantes no tempo, assim como a odisseia a que se submeteram para atravessar o oceano e se adaptar à terra que os recém recebia.

Perdida a língua, perdidas as nacionalidades, a possibilidade de retorno já não existe. Ainda que algum descendente queira fazer o caminho de volta.

Vozes desses antepassados, vez ou outra, ecoam na minha lembrança. Mas, hoje, mesmo sem compreender sequer uma palavra, consigo sentir o drama do emigrante, seu lugar movediço e sempre transitório.

Sempre houve aqueles que herdaram a terra, mas é a memória a herança mais concreta.