sexta-feira, janeiro 16, 2009

Como era o nome dela mesmo?

“Zezinho, você precisa ver a mulher que conheci hoje.”
“Mas e a Laura?”
“Esquece a Laura, Zezinho, escuta a história que eu vou contar.”
“Essa mulher é tão bonita mesmo?”
“Escuta, Zezinho, multiplica por dez a beleza de todas as mulheres que você conhece que não vai alcançar a beleza da que eu conheci hoje.”
“Então me conta como foi, vai.”
“Zezinho, você precisava estar lá pra ver, a garota é um sucesso. Eu estava tomando um chope no quiosque da Brahma, no Botafogo Shopping. Ali naquela meia praça de alimentação do segundo piso. Ela já estava lá quando cheguei; tomava um daqueles chopes escuros. Sentei num dos bancos, deixando um vago entre nós dois. Foi aí que a coisa aconteceu. Ela olhou pra mim e disse que a bebida estava uma delícia.”
“Foi ela que puxou assunto? Você é um homem de sorte...”
“Escuta, Zezinho, sei que sou um homem de sorte. Depois ela começou a falar sobre alguns bares que freqüenta à noite, na Zona Sul, mas que decidira parar ali para tomar aquele chope por causa do frisson que essa véspera de verão causa nela. Veja, Zezinho, frisson; já ouviu essa palavra? Olhe a outra expressão: véspera de verão. Só uma mulher muito especial pode falar assim. Continuou a conversar, disse que viera ver umas roupas, que fora à livraria, e que o momento mais agradável era aquele, o do chope. Eu ouvia tudo, embevecido de tanta beleza e simpatia Estupefato pelo modo como ela contava...”
“Embevecido, estupe... estupe o quê? Podia repetir?”
“Estupefato, Zezinho, estupefato; será que você não tem cultura? Mas ouça, deixemos as palavras de lado. Ela vestia uma roupa simples, uma blusa branca de malha com umas partes bordadas, calça jeans e tênis. E ficou a me olhar demoradamente. Eu não sabia o que dizer, Zezinho Quando ia falar alguma coisa, pensava que podia dar mancada, então fazia aquele ar de surpresa, suspirava, incentivava a continuidade da conversa.”
“Eu sempre falei, você não tem assunto, não sabe se dirigir às mulheres...”
“Zezinho, por favor, escute, ainda não acabei.”
“Ok, desculpe.”
“Por fim ficamos ali horas. Eu tinha no começo a intenção de tomar só dois chopes, mas tomei cinco, Zezinho, cinco! Não queria que aquele momento acabasse. E no fim foi ela quem disse que tinha de ir.”
“E você ficou a ver navios?”
“Que ver navios, Zezinho, como eu posso ver navios dentro de um shopping?”
“Não é isso, é uma metáfora, depois sou eu que não tenho cultura. Será que você nunca freqüentou uma escola? É a maneira de dizer...”
“Zezinho, eu sei o que é uma metáfora. Não fiquei a ver navios. Ela me deu o número do telefone, ou melhor, os números, porque ela tem vários telefones.”
“E aí, vai telefonar?”
“Telefonar? Não é preciso. Antes de ir embora, ela perguntou se eu não queria continuar bebendo à noite. Vai ter uma festa na rua da Matriz, um encontro entre alguns amigos, sei lá, ela me convidou.”
“E você vai?”
“O que você acha, Zezinho? Olhe bem pra mim...”
“Mas e a Laura?”
“Esquece a Laura, Zezinho, o noivo dela sou eu.”
“E se ela descobrir?”
“Não vai descobrir, Zezinho, por isso que preciso de sua ajuda, entendeu, por isso que estou contando toda essa história.”
“Mas eu? Você vai me meter em enrascada. Não quero complicações com a Laura.”
“Não se preocupe, Zezinho, você vai fazer apenas o seguinte: quando for nove e meia da noite, você telefona pro meu celular, diz que houve um problema na empresa, uma pane no sistema, e só eu posso consertar.”
“Mas isso nunca aconteceu, vai dar problema se alguém descobrir, vão dizer que estamos boicotando...”
“Zezinho, por favor, só um telefonema pro meu celular, o resto deixa comigo.”
“Mas e a Laura?”
“A Laura também deixa comigo.”

No dia seguinte, às quatro da tarde, os dois amigos se encontram de novo. Zezinho disparou a pergunta?
“Como foi o encontro com a garota? Deu tudo certo?”
“Zezinho, deu mais do que certo, muito mais do que certo.”
“E, agora, o que você vai fazer?”
“Zezinho, puta-que-pariu, o que você acha que vou fazer?”
“Vai continuar saindo com ela...”
“Isso, Zezinho você devia ser detetive profissional, descobre as coisas muito rápido.”
“Não me sacaneia, Júlio. Mas me diga uma coisa: e a Laura?”
“Puta-que-pariu, Zezinho, quanto a Laura, deixa que eu resolvo.”
“Mas a garota é tão gostosa mesmo?”
“Porra, Zezinho, assim você já está querendo saber de mais.”
“Ah, é? Então não conte mais comigo pra enganar a Laura.”
“Está bem, Zezinho, ela é muito gostosa, muito muito muito gostosa!”
“Você não devia marcar mais com ela, vai acabar em maus lençóis.”
“Não importa que os lençóis sejam maus, Zezinho, o que vale é que ela é muito, muito gostosa!”

Um comentário:

Anônimo disse...

Haron, achei massa o conto. Sensacional. Não parei, nem suspirei até ter terminado a leitura. Uma delícia, parabéns!