terça-feira, dezembro 02, 2008

Errâncias

Na última sexta-feira de novembro, dia 28, Vera Lyrio lançou seu segundo livro de poemas, Errâncias, na Fafima, em Macaé. Transcrevo o pequeno prefácio, que é de minha autoria.

Quem se dedicar à leitura dos poemas de Vera Lyrio, só terá a ganhar. Ao trabalhar a sonoridade das palavras, a construção original do verso e a força fundadora da metáfora, a poeta atinge, neste Errâncias, plena maturidade artística e filia sua obra ao que há de mais universal na tradição lírica de língua portuguesa. O perfeito trabalho estético com a linguagem não é dom ao alcance de qualquer autor. Aqui, porém, ela nos presenteia com versos que mostram a premência e permanência dessa arte que se mantém viva, a poesia. O simbolismo presente em muitos dos seus poemas possibilita pleno vôo de significantes e significados, permitindo que nomeemos a escritura poética como o lugar da transgressão. Essa arte difícil de se lidar, chamada literatura, tantas vezes dita superada, tantas vezes dada como morta pelo avanço de uma civilização altamente tecnológica, mostra pelas mãos da escritora infinitas possibilidades.
Versos como “Nas ruas perdidas do nada / versos infinitos / nítido azul... “Ergo os olhos / Já não estás / Vais longe! Qual tropeiro vagante / A desenterrar tesouros!”, indicam que, na verdade, para o verdadeiro artífice da palavra, o tesouro é o alcance do trabalho perfeito. A meta-poesia também comparece em seus versos: “...o encantador de palavras / Ouve o chamado das estrelas / Aconselha-se com elas / Desnudar-se é a palavra de ordem / Nesse processo mágico / Onde o metafísico se desenrola / Em transcendentes novelos / Violinos admiráveis”. E não está ausente a voz dos desterrados, deserdados, perdidos em terra alheia: “Basta-me um pouco de banzo / para ouvir o lamento das caravelas que partem / para que relembre as glórias tantas vezes cantadas / A despedida no porto, a viuvez lusitana / ... O som nítido das correntes / misturados à dor e à mágoa dos cativos / Ao martírio dos desterrados / Que abarrotam navios negreiros / Arrastados à terra estranha...”.
A literatura só tem a ganhar com versos desse quilate, versos bordejados pela dor, pelo desejo de trazer à tona uma vivência não só de náufragos, mas também daqueles que conseguem aportar.
Essa escritora, que vive a sua arte quase de maneira epidérmica, além do trabalho perfeito com sons, sentidos e significados, sabe também lidar com o silêncio e fazer dele um dos instantes supremos da arte poética: “Palavras sangram / Enfim, os filhos dos deuses / profetas de um tempo / Essência desperta entre as metáforas / Misturados à noite e ao dia / À alegria e ao pranto dos homens? No silêncio imóvel das páginas.”

Quem desejar comprar o livro, é só entrar em contato com a autora: veralyrio@uol.com.br; ou pelo telefone: (22) 27629081.

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