sábado, outubro 20, 2012

As "bibliotecas" das escolas públicas

Afirmar que as bibliotecas escolares são de fundamental importância para o desenvolvimento do gosto pela leitura e pelo consequente aprendizado das crianças e dos adolescentes é um lugar comum. Mas não parece que entendem assim alguns governos estaduais e tantos outros municipais. Basta rápida visita a algumas escolas públicas para constatarmos o descaso com que o assunto é tratado.

Na maioria das vezes as bibliotecas, quando existem, transformaram-se apenas em depósitos de livros didáticos, tornando os livros de leitura inacessíveis a muitos jovens. Em alguns lugares, instalam-se no local até mesmo monitores de TV, revelando a vitória da cultura de massa sobre aqueles que deveriam ser seus críticos, os profissionais de educação. Outro ponto que deixa a desejar é a falta de pessoas qualificadas para assumir tanto a função de bibliotecário como, em escala menor, a de auxiliar de biblioteca.

Enquanto em quase todo o mundo as bibliotecas tornaram-se locais de extremo dinamismo, com a realização de rodas de leitura, palestras de escritores convidados, festas literárias etc., é comum, em nossas escolas, encontrarmos nesse setor a mais absoluta inércia, ficando muitas delas fechadas durante grande parte do horário diurno ou noturno por falta de funcionários ou pela impropriedade do local de funcionamento. Quando, de alguma forma, funcionam, é graças a professores que, apesar de afastados de sala de aula por motivos de saúde, dedicam-se voluntariamente a favor da leitura.

No momento em que muitos veem a solução para o aprendizado na presença maciça da informática nos meios educacionais, a guarda, a exposição de livros e o estímulo pela leitura não recebem o mesmo tratamento. Muitas escolas do município de Macaé tem pequeno espaço, insuficiente para o funcionamento de uma biblioteca. Tanto isso é verdade, que é comum nomear o local como “sala de leitura”. Outro problema premente é a falta de condições a muitos professores em estimular a leitura entre seus alunos, o que muitas vezes acontece devido à fraca estrutura física e cultural da escola.

Profissionais de educação tentam refletir, no mundo inteiro, sobre a melhor maneira de transformar a escola em local prazeroso, o que facilitaria muito a aprendizagem. Programas de mestrado e doutorado das mais diversas universidades têm disponibilizado recursos para a pesquisa no sentido de tornar a educação transformadora, mas ainda esbarramos em atitudes primárias, que revelam o amadorismo de gestões políticas. Tais administradores quando demonstram alguma preocupação querem saber apenas sobre números, não investindo na melhoria da qualidade do ensino.

Os gestores escolares, aproveitando o período de renovação nos municípios proporcionado pelas últimas eleições, deveriam dedicar-se à solução dessas questões. Não podemos nos orgulhar de uma educação de qualidade se não temos bibliotecas nas escolas, nada podemos fazer de bom para os alunos se amontoamos os livros em locais inadequados que chamamos de sala de leitura, muitas vezes com funcionamento precário e com pessoal despreparado.

Governadores, prefeitos, secretários de educação e cultura, diretores de escola e também professores precisam demonstrar que também são leitores, exigindo a implantação de bibliotecas equipadas em todas as escolas e zelando pelo seu bom funcionamento. Caso isso não aconteça, estarão demonstrando falta de cultura e revelando que ocupam suas funções apenas por interesses particulares, e não pelo bem da educação, da cultura, enfim, da construção de uma sociedade mais justa.

Um dado além: o descaso a que são relegadas as bibliotecas das escolas públicas está se alastrando também para as chamadas salas de informática, onde ao invés de as recentes conquistas tecnológicas proporcionarem proveitoso avanço cultural e social acabam por revelar que os investimentos estão sendo jogados na lata de lixo.

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