quinta-feira, julho 06, 2006

Duas mulheres
- Sei tudo.
- Quem lhe contou?
Deolindo não respondeu, apenas se levantou e caminhou até a sacada. Olhou a cidade lá embaixo. Seu pensamento, no entanto, não a fixou, viajava até a imagem da mulher que amava e que agora lhe escapava.
- Sinto muito – a voz do oponente fez que voltasse à realidade.
- Sou um diplomata – pronunciou de modo quase inaudível, - sei quando devo me retirar.


O Paraíso do chope ainda estava sem seus freqüentadores habituais quando Deolindo entrou e se estabeleceu em uma das primeiras mesas. Anacleto, o garçom que sempre o atendia, não deixou de observar a face soturna do cliente. Aproximou-se e perguntou se não desejava uma mesa mais reservada, na parte interna do restaurante.
- Quero apreciar a paisagem – foi a resposta que obteve.
Prontamente estendeu-lhe o cardápio e se afastou durante alguns minutos; sabia como agir naquelas circunstâncias.
- Uma garrafa de Logan – foi o que ouviu quando tornou a se aproximar.
Saiu para atender o pedido.
Quando voltava trazendo a bandeja que tinha copo, balde com pedras de gelo e a garrafa de uísque, percebeu duas mulheres que se sentaram numa das mesas, no lado oposto à entrada.
Exagerou na dose de maneira proposital, ainda assim o cliente pediu maior quantidade.
Deolindo levou o copo aos lábios e sorveu o uísque com grande voracidade. Olhou na direção da praia e pode ver os últimos vestígios do dia. Um manto avermelhado cobria o horizonte misturando-se ao verde do mar; na calçada várias pessoas caminhavam num exercício contínuo de final de tarde.
Custaram-lhe alguns minutos os primeiros sinais de atuação do álcool. Percebeu em primeiro lugar que o anoitecer era uma alucinação saborosa; a cor avermelhada se azulava, esverdeava, escurecia de novo até se transformar no brilho da primeira estrela. Neste momento distinguiu logo abaixo, próximos a ele, dois rostos de mulher.
Segurou a garrafa e despejou no copo mais um pouco de uísque; o pequeno balde à sua direita ainda possuía uma boa quantidade de gelo, mas ele preferiu não o tocar. A ligeira embriaguez acendeu-lhe o desejo; não sabia, porém, o que dizer a qualquer uma das duas.
O garçom se aproximou mais uma vez e foi ele quem o salvou. Respeitoso, curvou-se e falou:
- Uma daquelas mulheres deseja falar com o senhor. Mas permita-me alertá-lo sobre uma coisa: é provável que sejam prostitutas.
Deolindo meneou a cabeça sem que a expressão transmitisse algum tipo de sentido. Após alguns minutos acenou e pediu para que passassem para sua mesa.
Elas vieram, sentaram-se prazerosas e permaneceram.
Descobriu um paraíso que não sabia existir. Enquanto ficou naquela cidade, passou a sair ora com uma ora com outra, quando não com as duas. Pagava bem, mas não se incomodava com isso, dinheiro não era problema.
Foi feliz durante seis meses.

Nenhum comentário: