Nos dias de hoje, apesar da precariedade do público leitor,
observa-se o aumento do número de candidatos a escritor.
Nos grandes centros, sobretudo, muitos jovens procuram editoras, que, sempre em
déficit no orçamento, apressam-se em recusar seus textos. Em consequência,
vemos o crescimento de editoras fundadas pelos próprios autores, ou o
surgimento daquelas que cobram para publicar. Tal fato não é novo nem peculiar
ao nosso país, já tendo passado pela experiência diversos escritores, o mais
famoso deles foi Marcel Proust.
Outro fato que reflete a febre pela publicação é o aumento
das oficinas de literatura. Em qualquer caderno cultural dos jornais, pode-se
ler sobre a existência delas e sobre os expoentes que as ministram. Para o
escritor, nada mal completar seu temerário orçamento ministrando aulas nessas oficinas.
Há também revistas que publicam contos depois de zelosa
seleção, e há muita discussão quando os nomes dos selecionados são anunciados.
Portanto, poderíamos achar que vivemos numa sociedade em que
se disputa o livro a tapa nas portas e nos balcões das livrarias. No entanto, não é isso que acontece. Quando observamos
nossos índices de educação, logo constatamos que a leitura, uma espécie de
produto de luxo, vem sendo praticada por pouca gente.
Existem vários motivos que afastam as pessoas dos livros. Há aqueles que veem importância na leitura mas dizem não praticá-la
por falta de tempo. Na verdade, para se tornar leitor é preciso ter disciplina,
e não tempo. Devido à grande oferta de afazeres que a vida atual oferece, parar para
ler é fato extremamente complicado, exige meticulosa organização. Há pessoas
que percebem a importância da leitura, mas sucumbem após avançar algumas
páginas, pois não estão acostumadas à concentração que o livro exige. E também
há os que vivem tranquilamente sem ler, não vendo necessidade alguma em
tal ato.
Mas, por incrível que pareça, sobrevive o batalhão de
pretendentes a escritor. Caso as editoras não tomem providências, a porta de
cada uma delas encontrar-se-á sempre abarrotada desses seres que insistem em se apresentar com seus manuscritos sob o braço.
Diante desse quadro, como deve ser o ofício de leitor?
Aquele que gosta do livro, que entra nas livrarias e silenciosamente olha cada
exemplar, observa seus autores, a nacionalidade, se o livro é de poesia, se de contos ou romance, se ficção ou ensaio; aquele que mergulha na
solidão das bibliotecas e permanece horas a fio seguindo os passos das
personagens, percebendo a sonoridade dos versos, as ideias de um filósofo. Quem
se aventura a exercer este ofício anônimo e meticuloso?
Outro dia, um editor afirmou: “caso cada candidato à
publicação que recebo em meu escritório comprasse um livro da minha editora, a
situação seria bem melhor, estaríamos em condição de, até mesmo, lançar jovens
autores”.
Será que cada candidato a escritor compra livros e lê o
tanto que deveria? Será que cada um consegue transmitir a paixão pela leitura àqueles a sua volta?
Nos dias de hoje, quase todos desejam ver-se catapultados pela cultura de massa. Há quem acredite que uma boa
matéria num jornal de grande circulação, ou mesmo uma reportagem na TV, poderá alavancar
a leitura e promover a venda de livros. Isso pode até acontecer, mas o resultado não será duradouro. O que promoverá a leitura é uma forte política de distribuição do
livro e de facilitação da leitura, principalmente nas escolas.
Escritores (ou a candidatos a) precisam saber
mostrar a graça que o livro possui, a magia que o envolve, e quem sabe o consigam com mais facilidade caso frequentem escolas e bibliotecas públicas, para
lerem junto com jovens e estimulá-los a perceber o prazer que a leitura
oferece. Assim, estarão exercendo também o ofício de leitor.
Um comentário:
Muito bom texto. Bem fundamentado. Parabéns!
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