Na ultima segunda-feira, compareci ao lançamento de um
livro. O autor é um poeta famoso, professor aposentado da UFRJ atualmente lecionando
na Universidade do Norte Fluminense. Durante o evento, uma aluna pediu para ele
definir o que é poema e o que é poesia. Ele lhe revelou que poema era o texto
literário, enquanto a poesia poderia estar em qualquer parte. Em consequência,
ainda segundo ele, há poesia sem literatura e muita literatura sem poesia.
Saí dali pensando onde eu poderia encontrar a poesia em
minha conturbada cidade, e fora dos livros raros que descubro e leio nos poucos
momentos que tenho livre. Lembrei então de uma conversa que tivera com uma
amiga. Discutíamos que, atualmente, quase não é possível pensar prazeres fora
do círculo do consumo. Muitos querem frequentar shoppings e comprar o que há de
mais bonito; outros desejam assistir a espetáculos para logo depois jantar em
bons restaurantes; há ainda quem quer viajar ao exterior para, sobretudo,
fazer compras. Daí, nos pusemos a pensar numa vida que escapasse a esse
circuito perverso. Cheguei a falar que houve um tempo em que alguém era capaz
de se sentir feliz por sentar e meditar, apreciar uma bela paisagem, ou mesmo
ir a um museu e ficar horas diante de suas obras de arte favoritas. Mas no
mundo atual, parece que tais ações já não fazem parte da vida de muitas
pessoas. A leitura também já nos escapa. São poucas as pessoas que conseguem perder-se prazerosamente num bom livro.
Sei que muitas dessas ações implicam também o consumo. É preciso comprar ingressos para entrar em museus; algumas vezes é preciso pagar para estar num parque a apreciar a paisagem; pagar a condução que nos leva até lá; no caso da leitura, pagar o livro à livraria. Mas são tipos de consumo que tiram a gente da avassaladora tempestade do “mercado”. Talvez a poesia a que o poeta referiu-se seria essa, encontrar a beleza e a surpresa nos pequenos momentos em que se aprecia alguma coisa fora do ímpeto do consumo desenfreado.
Sei que muitas dessas ações implicam também o consumo. É preciso comprar ingressos para entrar em museus; algumas vezes é preciso pagar para estar num parque a apreciar a paisagem; pagar a condução que nos leva até lá; no caso da leitura, pagar o livro à livraria. Mas são tipos de consumo que tiram a gente da avassaladora tempestade do “mercado”. Talvez a poesia a que o poeta referiu-se seria essa, encontrar a beleza e a surpresa nos pequenos momentos em que se aprecia alguma coisa fora do ímpeto do consumo desenfreado.
E eis que procurando por livros e por poesia, deparo-me com
uma pequena livraria em Copacabana, bem na rua Rainha Elizabeth. Realizava-se
ali um evento chamado “Ponte de Versos”, atividade que já existe, segundo a
organizadora, há mais de dez anos. Leram-se poemas de um autor presente, que lançava seu livro.
A poesia, afinal, bradei em meio ao silêncio que o poema exige. Leram-se
poemas diversos, de autores presentes e de ausentes. Alguns dos participantes,
para minha surpresa, tiraram o celular do bolso e leram seus poemas. Que
interessante, pensei, poemas no celular. Acho que um deles tinha toda a obra armazenada no pequeno aparelho, pois dali fez vir à sua voz várias composições.
Não discuto aqui a qualidade dos textos, mas achei, enfim,
que a poesia não desaparecera, como eu já havia suposto. Lembrei-me, então, das
pessoas que, no metrô, não liam livros mas manuseavam celulares. Quem sabe escreviam
poemas dentro do silêncio frio dos vagões, em meio ao lamento agudo das rodas que
deslizavam sobre os trilhos de aço?
Na livraria, apesar dos poemas nos smartphones, os livros
nas estantes, atrás de cada participante, compunham o cenário. E, cada um que
lia seus poemas, no fundo da alma tinha o sincero desejo de vê-los um dia
publicados em livro, expostos na vitrine de entrada, bem arrumados nas estantes
elegantes do local.
No final, alguém lembrou que o nome da livraria fazia uma
referência a Shakespeare. Foi então lido um soneto do bardo. Shakespeare viveu
há quatrocentos anos, num tempo em que não havia nenhuma tecnologia. Nos tempos
de hoje, apesar dela, ainda (graças a Deus) se sofre pela falta de algo que só
a poesia pode preencher.
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