Desde os primórdios da humanidade, muitas obras de arte foram reproduzidas. Quando se tratava de livros, logo
apareciam os copistas, aqueles seres humanos que exerciam a mesma função de uma
tipografia, só que a mão.
É lógico que quando se fala de teatro ou de artes plásticas,
a situação é um pouco diferente. Uma vez que no teatro cada apresentação é única,
ele não se propõe a mecanismos de repetição. Mas qual autor não gostaria
de ver suas peças em cartaz anos a fio, como algumas produções da Broadway que
permanecem em cartas durante anos ou até durante décadas? Em relação às artes plásticas
também se percebe a mesma questão: cada obra de arte é única. Mas todo pintor
ou escultor, quando alcança o sucesso, há de querer multiplicar sua produção
para sair em turnê mundo afora, sem falar na possibilidade de reprodução através de álbuns de
fotografia, a mais recente febre nas livrarias.
Limitemo-nos, porém, à escrita e ao cinema.
A primeira, desde Gutemberg, proliferou-se com a impressão
de exemplares que continuaram a sair das máquinas de acordo com a perspectiva de expansão do produto. Sim, produto, porque faz tempo o livro se tornou um
produto, um objeto de consumo muito bem acabado, sem nada a dever a qualquer
outro produto desse nosso vasto mundo de negócios.
O cinema, já pela própria natureza, surgiu como ponta de
lança daquilo que se costumou chamar de cultura de massa. Ele conseguiu
massificar a literatura tornando-a acessível ao grande público, já que seria
mais fácil assistir a filmes do que ler livros. Sei que muitos cineastas apontarão essa minha afirmação como um sacrilégio. Mas a ideia que se formou no mundo
inteiro a respeito da sétima arte é de algo espetaculoso. A própria reprodução
em larga escala das cópias de um determinado filme e sua consequente
distribuição por todo o planeta configuram o cinema como um tipo de arte fadado
à grande audiência.
Portanto, voltamos à questão inicial. Por que a necessidade
do estrelato, por que a necessidade de uma grande audiência? Quem se propõe a
ser um artista para si mesmo ou para um círculo pequeno de apreciadores? Sim,
de verdadeiros e profundos apreciadores. Assim, penetraríamos na misteriosa
afirmação de Machado de Assis no início do seu Brás Cubas, que contabilizava apenas uma meia dúzia de leitores como a sua perfeita audiência.
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